Prefácio

           As Cores dos Sete Intervalos. Lendo isto sem saber que intervalos são estes poderemos fazer infinitas suposições. Cores em geral são sempre bem vindas, com poucas exceções. Mas intervalos? Entre que coisas? Objetivas? Subjetivas? Concretas? Abstratas? Tudo fica mais fascinante quando descobrimos que são intervalos de funções sonoras. E aí o “segredo” é revelado. Trata-se de um estudo da parte da música que se denomina harmonia. A música tradicionalmente é dividida em ritmo – tive um professor que iniciou o seu curso de música dizendo: “no princípio era o ritmo” – melodia e harmonia. Esta foca sons produzidos simultaneamente. A harmonia estudada aqui nestas Cores é a tonal, baseada em séries de sons denominadas escalas tonais, verdadeiras escadas por onde subimos ou descemos, pré-estabelecidas evolutivamente desde, no mínimo, a Grécia antiga, tendo tido uma ênfase importantíssima operada pelo grande músico do período barroco, João Sebastião Bach. Porque tonais? Porque ao longo dos séculos foram sendo descobertas “simpatias” entre sons, baseadas no fenômeno de ser cada um deles composto por outros, que por estarem contidos também podem ser extraídos. A este fenômeno físico musical dá-se o nome de “série harmônica”. Cada série desta é mais que um som. É um tom. O nome deste tom é o mesmo da nota que o gerou, a fundamental, acrescido do tipo de escala que escolhemos a partir dela. Maior, menor, diminuta, aumentada e muitas mais. Mais de noventa por cento da música que é composta e que escutamos usa o sistema tonal.

          O estudo da harmonia musical, apesar de fascinante costuma ser complexo. Sobretudo para os que pretendem trabalhar com improvisações tonais, jazzísticas ou não. São muitas as escalas a aprender. Cada uma delas gera muitos acordes, a própria realização da harmonia. Na harmonia tonal, aqui estudada, para que exista um acorde é preciso que no mínimo três notas – uma tríade - sejam tocadas simultaneamente, diferentemente do conceito mais amplo de harmonia onde basta a simultaneidade mínima de dois componentes. Ao longo dos séculos uma infinidade de professores escreveu tratados de harmonia. No tempo que estudei usei o de Hindemith e o de Schoenberg.

           Hoje há livros mais modernos, mais interessantes, e tão bons ou melhores quanto os que citei. Existem professores jovens (para mim) ensinando muito bem os segredos da harmonia. Este livro do guitarrista arranjador e maestro Paulo Primo, com mais de quarenta anos de estrada, traz uma novidade. No campo da melodia, uma nota emitida de cada vez, sequencialmente, por alguém cantando ou tocando um instrumento sem usar duas ou mais notas ao mesmo tempo, cores e sons vem sendo associados há séculos. Há ainda registro de utilização de cores para caracterizar o tipo de emoção encontrada em certos sons e acordes. Mas a colorização de graus de funções harmônicas é a primeira vez que vejo. Tento explicar. Todas as notas de uma escala podem compor um acorde. Como este livro é dedicado à harmonia tonal funcional, praticada em mais de noventa por cento da música do mundo, Paulo optou por colorir sete funções, graus, nominados ordinalmente: 1º vermelho, 3º laranja, 5º amarelo, 7º verde, 9º azul, 11º índigo e 13º violeta. A novidade destes sete graus coloridos, de fato sete funções intervalares em uma escala apresentada, é a rapidez do aprendizado produzida pelas cores. O pensamento vai mais direto à “coisa em si”. A pessoa vê imediatamente a nota (em letras) e a função (em cores) o que possibilita uma mais rápida compreensão harmônica. Li num livro sobre o Cérebro que quanto mais informações diferentes sobre uma coisa recebemos, mais fácil e rápido a compreenderemos. Neste caso, acrescida à percepção mais abstrata da notação está a mais concreta da cor. O capítulo “Harmonização dos Centros Tonais” é (pelo menos para mim) uma novidade importante. Na prática vai facilitar muito à pessoa que o estudar a colocar acordes em qualquer composição tonal (harmonizar). Há ainda exercícios para serem feitos sem as cores e algum texto histórico e explicativo essencial. Andei dando umas beliscadinhas neste estudo, e penso que vou continuar assim que tiver meu exemplar...


        Tuzé de Abreu (Alberto José Simões de Abreu, Salvador 21/02/1948) - Graduado em medicina e flauta, com mestrado em composição musical. Músico profissional desde os 14 anos, 1962, tendo uma experiência musical nacional e internacional, eclética; ex- membro da Orquestra Sinfônica da UFBA; foi músico e diretor musical de trios elétricos, músico de grupos de choro, bossa-nova, música experimental, orquestras de baile; trabalhou por 10 anos, não seguidos, com Walter Smetak, tocou nos dois discos dele; trabalhou nos grupos de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, fez parte, como flautista e saxofonista dos Doces Bárbaros originais (1976); tocou em quase 50 carnavais, em Salvador, no Brasil e no exterior; fez a trilha de sete longa metragens, duas delas premiadas, tem composições gravadas por Elza Soares, Gal Costa, Caetano Veloso, entre outros. Seu show autoral Novas Aventuras no País do Som ganhou os prêmios Caymmi de melhor show e melhor direção musical em 2015. Foi diretor musical do Balé Brasileiro da Bahia, foi por duas vezes ao Japão como parte da equipe de João Gilberto.

Teatro Castro Alves, 1983.
Foto Sérgio Benutti